Ideologia

"A lógica das palavras"

undefined
undefined

A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um grupo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes numa explicação racional para as diferenças sociais,políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classe, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado.
Observamos então que a ideologia é apresentada com as seguintes caracterísitcas fundamentais:

  • Constitui um corpo sistemático de representações que nos "ensinam", a pensar e de normas que nos "ensinam" a agir;
  • As diferenças de classe e os connflitos sociais são camuflados, ora com a descrição da "sociedade una e harmônica", ora com a justificação das diferenças existentes;
  • Assegura a coesão social e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e poucas recompensadoras, em nome da "vontade de Deus" ou do "dever moral" ou simplismente como decorrência da "ordem natural das coisas";
  • Mantêm a dominação de uma classe sobre outra.
É interessante observar que a ideologia não é uma mentira que os indivíduos da classe dominante inventam para subjugar a classe dominada, porque também os que s beneficiam dos privilégios sofrem a influência da ideologia, o que lhes permite exercer como natural sua dominação, aceitando como universais os valores específicos de sua classe. Portanto, a ideologia se caracteriza pela naturalização, na medida em que são consideradas naturais situações que na verdade resultam da ação humana e, como tal. São históricas e não naturais: por exemplo, quando se considera natural que a sociedade esteja dividida em ricos e pobres ou que uns mandem e outros obedeçam.
Outra característica da ideologia é a universalização, pela qual os valores de quem detêm o poder são estendidos aos que a ele se submetem. É assim que a empregada doméstica "boazinha" não discute salário nem reclama se trabalha além do horário. Também os missionários que acompanhavam os colonizadores às terras conquistadas certamente não percebiam o caráter ideológico de sua ação ao imporem a religião e a moral estranhas às do povo dominado.

undefined
undefined

Desde o final do século XIX e na primeira metade do século XX, pedagogos influenciados pelas tecerias da chamada escola nova defenderam a idéia otimista de que a educação teria função democratizadora, como fator de mobilidade social. Ao contrário das expectativas, porém, constataram-se altas taxas de repetência e vazão escolar, sobretudo nas camadas mais pobres da sociedade. Embora os índices fossem mais perversos nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, essa distorção acontecia também m outras regiões do mundo.

Por volta de 1970, teóricos franceses passaram a admitir que a escola não seja equalizadora, mas reprodutora das diferenças sociais. Segundo alguns desses pensadores, o próprio funcionamento da escola repetiria a estrutura hierarquizada do sistema, reproduzindo as relações autoritárias existentes fora dela. Mais ainda, ao acentuar a dicotomia entre a teoria e práxis, a escola desvaloriza o trabalho manual, privilegia o trabalho intelectual, como também torna a própria teoria estéril, já que a mantém distanciada da prática. Em decorrência dessas concepções pessimistas a respeito da atuação da escola, outros estudiosos passaram a investigar o caráter ideológico da produção da literatura infanto-juvenil e dos livros didáticos.

A partir dessa análise, porém, não devemos generalizar apressadamente, reduzindo a escola e o material didático em instrumentos de ideologia, por ser uma posição por demais redutora. Se os teóricos crítico-reprodutivistas nos alertaram para o fato de a práxis educativa não ser neutra, mas se achar vinculada à sociedade em que atua às relações de produção, ao sistema político, isso não significa que ficamos reduzidos a peças de engrenagem e sem força de ação, uma vez que ninguém é joguete passivo de mistificação.

Além disso, as boas escolas são críticas do sistema e cada vez mais busca aproximar o ensino e vida; e os bons autores, tanto de livros didáticos como de ficção, ao lado da discussão sobre os valores humanos considerados importantes, têm sabido abordar, com sutileza, sem moralismos, os temas que revelam os riscos e perigos dos desvios em que envereda muitas vezes a humanidade. Sempre haverá na escola e nos livros a possibilidade de professores, autores e alunos inventarem práticas que se tornam críticas da inculcação ideológica.

A escola é um espaço possível de luta, de denúncia da domesticação e de procura de soluções criativas.