Ideologia

"A lógica das palavras"

Desde o final do século XIX e na primeira metade do século XX, pedagogos influenciados pelas tecerias da chamada escola nova defenderam a idéia otimista de que a educação teria função democratizadora, como fator de mobilidade social. Ao contrário das expectativas, porém, constataram-se altas taxas de repetência e vazão escolar, sobretudo nas camadas mais pobres da sociedade. Embora os índices fossem mais perversos nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, essa distorção acontecia também m outras regiões do mundo.

Por volta de 1970, teóricos franceses passaram a admitir que a escola não seja equalizadora, mas reprodutora das diferenças sociais. Segundo alguns desses pensadores, o próprio funcionamento da escola repetiria a estrutura hierarquizada do sistema, reproduzindo as relações autoritárias existentes fora dela. Mais ainda, ao acentuar a dicotomia entre a teoria e práxis, a escola desvaloriza o trabalho manual, privilegia o trabalho intelectual, como também torna a própria teoria estéril, já que a mantém distanciada da prática. Em decorrência dessas concepções pessimistas a respeito da atuação da escola, outros estudiosos passaram a investigar o caráter ideológico da produção da literatura infanto-juvenil e dos livros didáticos.

A partir dessa análise, porém, não devemos generalizar apressadamente, reduzindo a escola e o material didático em instrumentos de ideologia, por ser uma posição por demais redutora. Se os teóricos crítico-reprodutivistas nos alertaram para o fato de a práxis educativa não ser neutra, mas se achar vinculada à sociedade em que atua às relações de produção, ao sistema político, isso não significa que ficamos reduzidos a peças de engrenagem e sem força de ação, uma vez que ninguém é joguete passivo de mistificação.

Além disso, as boas escolas são críticas do sistema e cada vez mais busca aproximar o ensino e vida; e os bons autores, tanto de livros didáticos como de ficção, ao lado da discussão sobre os valores humanos considerados importantes, têm sabido abordar, com sutileza, sem moralismos, os temas que revelam os riscos e perigos dos desvios em que envereda muitas vezes a humanidade. Sempre haverá na escola e nos livros a possibilidade de professores, autores e alunos inventarem práticas que se tornam críticas da inculcação ideológica.

A escola é um espaço possível de luta, de denúncia da domesticação e de procura de soluções criativas.

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